Indicador condição estrutural de coletores  - Inspeção de coletores

Vou descrever a experiência da Taviraverde na atividade de diminuição de afluências indevidas na rede de coletores.

Em 2005, quando começamos, ficamos surpreendidos por termos coeficientes de afluência tão baixos. O que tínhamos era uma rede que, na parte baixa da cidade, funcionava sempre (24h) em pressão. Quando, depois de obras, a rede começou a funcionar por gravidade é que a dimensão do problema se revelou. Estávamos com coeficientes de afluência de 1,6.

Desde então, 2010, a diminuição deste coeficiente tem sido a atividade base da gestão das redes de coletores domésticos (não temos os pluviais).

O indicador base escolhido foi a percentagem de águas residuais entregues para tratamento sobre as águas residuais cobradas. Coeficiente de afluência em percentagem. O objetivo final seria qualquer coisa abaixo dos 100%. A literatura sugeria que era possível chegar aos 80%. Ainda não chegamos lá.

O indicador foi denominado (e ainda é) “controlo de estanquicidade de coletores”.

Uma das atividades que desenvolvemos e controlámos, nessa altura, com objetivos anuais, foi a inspeção de coletores. O objetivo era inspecionar a parte da rede que tinha sido planeado inspecionar nesse ano. Era medido em % do comprimento inspecionado sobre o comprimento total planeado. O facto de o cadastro não estar completo não foi impedimento. O cálculo do indicador era atualizado em conjunto com o cadastro e as inspeções serviram para realizar ou atualizar o cadastro.

Vou descrever o caso de Tavira cidade.

Tendo Tavira rede pública separativa, as águas pluviais afluentes à rede de coletores, eram e são as provenientes das redes domésticas unitárias existentes em toda a parte antiga da cidade. Existem também várias urbanizações limítrofes que contribuem para o problema, por inexistência ou insuficiência da rede pluvial.

Estas situações não melhoram com o aumento de estanquicidade da rede e tem que ter outro tratamento.

A estanquicidade da rede, incluindo coletores e caixas de visita, impede a afluência das águas freáticas quando o nível é elevado, quer por efeito de maré quer pluvial.

As caixas foram impermeabilizadas. Os coletores partidos ou mesmo já parcialmente inexistentes, foram reabilitados por encamizamento (CIPP).

Reabilitação de coletores através da tecnologia Cured-In-Place Pipe (CIPP) Reabilitação de coletores através da tecnologia Cured-In-Place Pipe (CIPP) - Detalhe

Imagem 1 e 2 – Reabilitação de coletores através da tecnologia Cured-In-Place Pipe (CIPP).

 

Mas, esta atividade de inspeção, que permitiu detetar as infiltrações, tem que ser antecedida de outra atividade, a limpeza, que é feita com água a pressões muito elevadas. A repetição destas limpezas deteriora a estanquicidade dos coletores. Chegámos à conclusão que deve ser evitada o mais possível.

Para evitar esta necessidade de inspeção, resolvemos instalar instrumentação que permite a medição do nível da lâmina líquida no interior dos coletores. Resolvemos criar ZMS (zonas de medição de saneamento) e ir estendendo a medição dos níveis às várias ZMS que fomos criando.

Controlo de afluências indevidas ZEUS

Imagem 3 – Controlo de afluências indevidas à rede de saneamento, através da medição do nível do líquido em caixas de visita.

 

Interrompemos a atividade de inspeção regular, para só a fazermos quando os indicadores de nível nos alertam para qualquer anomalia.

Estamos nesta fase. O indicador de estanquicidade, que já estava ligeiramente abaixo dos 100%, subiu para os 105% por perda de algum controlo durante esta transição, mas já estamos a recuperar.

Isto para dizer que, embora seja necessário inspecionar a rede, fazer disso uma atividade regular vai originar o aumento do problema que queremos evitar. Pensamos, no entanto, que uma inspeção geral da rede é indispensável.

Ainda no que respeita à inspeção, ela não permite uma avaliação do estado do coletor. Só permite ver se há buracos ou não, não permite a identificação de um estado intermédio, ou seja, apenas permite ser classificado de Qualidade do serviço boa ou Qualidade do serviço insatisfatória.

Como conclusão, pensamos que o indicador adequado para este prolema é o coeficiente de afluência simples ou em percentagem, deixando às EG a escolha dos outros indicadores das atividades que contribuem para alcançar o coeficiente pretendido.

Sugerir, que através do indicador “Controlo de condição estrutural de coletores”, se faça uma inspeção inicial a toda a rede e controlar o avanço dessa atividade aproveitando-a para atualizar e completar o cadastro parece uma boa ideia, mas fazer dessa atividade um procedimento recorrente só servirá para deteriorar precocemente os coletores, o que é contraproducente do ponto de vista da boa gestão da rede de saneamento.

 

Artigo de opinião por António Chaves Ramos

(Administrador Executivo da Taviraverde, E.M.)

Data do Artigo
30/11/2021