No Dia Mundial do Ambiente somos, sistematicamente, alertados para uma serie de catástrofes ambientais que se preparam para nos cair em cima se não mudarmos os nossos comportamentos e modo de vida. Houve até quem sugerisse que a única solução é diminuir a população mundial. (alguns cientistas avaliaram a diminuição necessária em 3/4 da população atual). Felizmente todas as projeções de fomes generalizadas que exterminavam parte significativa da humanidade falharam. Parece que afinal o planeta tem capacidade para albergar, de modo sustentável, a população mundial atual. Esta á a conclusão projetada por modelos mais recentes. Não temos que nos preocupar? Temos. Mas é um tema que, contrariamente ao que nos querem fazer querer, tem muito pouco a ver com a atual falta de água no Algarve. Para a falta de água, felizmente, há soluções que não implicam a evacuação da Província e deixá-la desertificar.
Neste Dia Mundial do Ambiente realizou-se em Lagos um fórum “Resiliência Hídrica no Algarve – o nosso propósito comum”.
Para enquadramento do problema, durante a manhã, o fórum iniciou-se com 4 apresentações de alerta para as catástrofes do costume agora e a prazo. A primeira, feita por um técnico da DG Ambiente da Comissão europeia, que partiu do princípio que o nível de educação ambiental da assembleia era o que existia no tempo dos Cro-magnons. As duas seguintes, que me pareceram com bastante nível, acabavam a meio, isto é, descreviam as projeções dos modelos, que desenvolveram e utilizaram, sem passar às medidas a tomar para diminuir ou eliminar os efeitos perniciosos revelados nessas projeções.
A última era completa e a conclusão era que, tomando medidas, que me pareceram fáceis, reduziríamos aumento, do parâmetro referente à escassez dado como exemplo, de 25% para 4% em 2100. É animador? Pareceu-me que sim. Vale a pena trabalhar.
Na tarde foram feitas duas apresentações de como os catalães e os cipriotas resolveram os problemas de falta de água com que se debatem. Tendo projetado um deficit para balanço hídrico (balanço entre os consumos previsíveis e as disponibilidades na região), os catalães começaram a implementar soluções para aumento dos caudais disponíveis no final do seculo passado e os cipriotas começaram a implementação do plano para aumento de caudais em 1967. Graças as isto, os catalães aguentaram uma seca severíssima nos últimos três anos com restrições de consumo possíveis para os utilizadores. Os cipriotas têm água para a sua vida normal para a agricultura e para o turismo. A escassez de água foi uma premissa do desenho do projeto e a probabilidade de secas foi um dado para o dimensionamento.
Seguiu-se uma mesa-redonda com a participação de representantes dos principais utilizadores de água e do responsável pela sua distribuição. Apresentaram o state of the art no controlo de desperdícios de cada sector. A conceção dos programas de redução consumos implementados pela hotelaria, ali representada por dois grupos hoteleiros de referência, é verdadeiramente inovadora.
Pela distribuição, para aumento das disponibilidades imediatas, foram identificados dois tipos de ações. As primeiras foram possibilitar o aproveitamento dos volumes mortos das albufeiras e movimentá-los para onde necessário. Estão executadas ou em final de execução. Felizmente choveu e ainda não foi preciso utilizá-las. As outras, as que realmente aumentam a água disponível, são a eliminação de desperdícios, a reutilização de águas residuais tratadas, a dessalinização e uma captação de águas no Guadiana. Estas acrescentarão 80 Hm3 às disponibilidades (o equivalente ao consumo doméstico anual da região.)
Uma parte interessante foi a que resultou da discussão de uma diferença de opinião em relação à comunicação destes problemas. Numa das apresentações de um participante da mesa-redonda foi dito que não há alteração na precipitação média, do Algarve, desde que há registos. Um dos apresentadores dos temas da manhã, no período para perguntas e esclarecimentos, emitiu a opinião que era uma leviandade fazer tal afirmação. Ficou a ideia que defendia que, dada a gravidade que ele atribuía ao problema, era legitimo empolá-la, mesmo que por omissão de dados. O autor da afirmação discordou em absoluto desta abordagem do problema.
Nas conclusões, com a presença da ministra do ambiente, foi dito que as ações para aumento das disponibilidades imediatas estavam em curso e que estariam a funcionar no final de 2026.
A ministra encerrou o fórum informando que, para alem destas medidas já decididas e que deverão ser concluídas de acordo com o planeado, existem outras ainda em fases de estudo mais atrasadas, que serão a ampliação da dessalinização, o aumento do reaproveitamento de águas residuais e a construção de duas novas barragens.
Resumindo:
As questões ambientais têm, possivelmente, uma importância decisiva no futuro da humanidade. Mas ainda sabemos muito pouco sobre elas.
No que respeita ao clima, verificou-se que, ao longo da história da Terra, os aumentos de dióxido de carbono sempre estiveram ligados a aumentos de temperatura. É possível estimar, com alguma precisão, esses aumentos de temperatura e relacioná-los com os aumentos de dióxido de carbono. Isto é o que sabemos do aquecimento. Também se deduz que os níveis de dióxido de carbono na atmosfera já variaram. Se se descobriu como não se sabe como replicar. Os aumentos de dióxido de carbono na atmosfera, por agora, são considerados irreversíveis.
Com base nestes dados podem fazer-se previsões. Pode-se calcular qual o aumento de temperatura esperado para os níveis previsionais de concentração de dióxido de carbono futuras. Pode-se calcular a dilatação da água do mar e calcular o aumento de nível esperado. Nunca vi nenhum cálculo do tempo deste aumento de nível, mas penso que será muito (décadas?). O aumento de temperatura acarreta também um aumento de evaporação que terá com consequência um aumento de precipitação. Com o aumento de dióxido de carbono as plantas vivem melhor e a quantidade de água de que precisam é menor. Em consequência, embora não seja falado, a área de desertos da terra diminuiu 15%, uma área semelhante à dos EUA.
Com o aumento de conhecimento da física aplicável e da sofisticação da parametrização dos modelos de previsão, é possível fazer previsões e aferir algumas delas nomeadamente as temperaturas. Com a introdução de meteorologia nos modelos o grau de incerteza das previsões aumenta. A ligação entre o aquecimento e as suas consequências nas alterações climáticas tem sido o objeto de investigação aturada, mas, penso que, ainda há um longo caminho a percorrer.
O que façamos a nível da região não tem influência na resolução destes problemas. Nem a nível região nem a nível do País. Mesmo a Europa tem pouca influencia no agravamento destes problemas (~10%). Sermos extremistas prejudica-nos sem qualquer vantagem prática para resolução do problema.
Para a falta de água temos que fazer como os Catalães e os Cipriotas. Prever, projetar e executar antes que as infraestruturas existentes esgotem a sua capacidade. Para o Algarve há muito mais soluções que para aquelas regiões.